Fotografias |
|
Espécies de Anatídeos cinegéticas em Portugal (da esquerda para a direita e do topo para baixo): - Pato-real Anas platyrhynchos, Frisada Anas strepera, Marrequinha Anas crecca, Pato-trombeteiro Anas clypeata, Piadeira Anas penelope, Arrabio Anas acuta, Marreco Anas querquedula, Zarro-comum Aythya ferina e Zarro-negrinha Aythya fuligula (apenas neste caso, a fotografia não é minha - retirada da internet há uns anos e já não sei qual o autor). Todas estas fotografias são de machos em plumagem nupcial - para o acasalamento. Existe outra plumagem - plumagem de eclipse - que os patos adquirem a seguir à época de reprodução e antes da "muda" (muda das penas primárias, as que asseguram a capacidade de voo - ficam cerca de 4 semanas sem poderem voar), pois têm que se camuflar dos predadores. A plumagem de eclipse dos machos é semelhante à das fêmeas, que têm geralmente uma plumagem acastanhada, mesmo com a plumagem nupcial.
Pato-real Anas platyrhynchos (atualizado 11-11-2024)
Depois de eclodirem dos ovos, as crias dos patos ficam apenas umas horas no ninho. Quando saem atrás da progenitora nunca mais voltam ao ninho - são nidífugas. Por vezes percorrem quilómetros até chegarem à água. O Pato-real é a espécie de pato mais abundante em Portugal como nidificante, no entanto a estimativa feita no III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal está muito sobre estimada - não sei se inclui patos-reais "largados" em zonas de caça turística... Os resultados das nossas capturas mostram que é uma espécie basicamente residente.
A maior mortalidade das crias verifica-se nas primeiras 3 a 4 semanas de idade (as da foto têm cerca de 2 semanas). Começam a voar cerca das 7 semanas. Para garantir a viabilidade das populações desta espécie é fundamental existirem locais de reprodução seguros e com o mínimo de alimentação. Infelizmente as zonas húmidas naturais continuam a ser destruídas... Um outro habitat favorável para reprodução são as pisciculturas extensivas mas estas foram destruídas a um ritmo ainda mais acelerado do que as zonas húmidas naturais, desde a década de 90, com fundos comunitários... A contagem de ninhadas e a determinação da respetiva idade é um indicador do sucesso reprodutivo. Quem estiver interessado em colaborar nesta atividade agradeço que me contacte.
O Pato-real é a única espécie cujos machos têm penas caudais encaracoladas (apenas com a plumagem nupcial).
Ainda as caudais deste macho que está a secar as asas depois dum banho higiénico...
Um macho a alimentar-se, ao qual se junta uma fêmea na parte final. Como no vídeo anterior as vocalizações desta espécie não são explicitas, o vídeo abaixo tenta ilustrar algumas...
Os patos e algumas outras aves selvagens trocam as penas que lhes permitem voar (as rémiges primárias), todas ao mesmo tempo. Assim, ficam cerca de 4 semanas sem voar. É um período crítico do ciclo biológico destas espécies, pois no Verão não abundam zonas húmidas com tranquilidade, segurança e alimentação que lhes permitam sobreviver este período. Esta fêmea que se estava a espreguiçar mostra as penas primárias a crescerem - ainda não consegue voar...
Na época da "muda" os machos têm uma plumagem semelhante às fêmeas (plumagem de eclipse), para assim se poderem camuflar melhor e fugirem aos predadores. Neste período a melhor forma de distinguir os sexos é pela cor do bico: - nos machos é amarelo/esverdeado, nas fêmeas é castanho/alaranjado, com manchas escuras. A utilização de marcas nasais permitiu descobrir que as fêmeas sofrem maior mortalidade do que os machos durante a "muda" pois fazem-na mais tarde e mais de metade delas depois de 15 de Agosto (quando tradicionalmente começava a caça aos patos). Assim, temos insistido na recomendação da caça aos patos começar mais tarde e desde a época de 2005/2006 que a sua caça só começa no princípio de Setembro n Ria de Aveiro - idealmente só deveria começar no princípio de Outubro, como em Espanha - esperemos que se venha a verificar o mesmo em Portugal!
Frisada Anas strepera
É uma espécie de dimensões aparentes pouco menores do que o Pato-real, sendo a fêmea muito parecida com a dessa espécie. A fêmea de Frisada é mais facilmente distinguível da de Pato-real por ter o espelho branco (o espelho é a mancha colorida que os patos têm nas asas, especialmente visível quando estão em voo - nesta fotografia vê-se apenas o do macho, que também tem preto), e pelo bico que é escuro no meio/parte superior e tem 2 faixas laterais laranjas (uma de cada lado). A cabeça também tem uma silhueta diferente mas só com a experiência é que se nota essa característica.
As frisadas adultas são basicamente herbívoras, alimentando-se de vegetação aquática submersa. Como todos os patos do género Anas alimentam-se à superfície (são designados patos de superfície), quanto muito mergulham o pescoço e parte do corpo na água - como se observa no vídeo anterior - os Ingleses chamam a esta posição "up-ending".
No entanto, quando a necessidade obriga ou a abundância de alimento no fundo é atrativa, também podem mergulhar para se alimentarem - em cima uma fêmea está a emergir dum mergulho, com vegetação no bico - no Inverno 2009/10 os níveis de água subiram muito e rapidamente em S. Jacinto, sendo que a vegetação submersa ficou fora do alcance da posição anterior. Os juvenis, como os de todas as outras espécies de patos, precisam de mais proteína logo comem mais invertebrados aquáticos.
As frisadas também se reproduzem em Portugal, em especial no Sul. No entanto, esta fotografia é de S. Jacinto, um dos locais de nidificação confirmada mais a Norte de Portugal.
Ainda um pouco mais a Norte - esta é do Parque do Buçaquinho - antiga ETAR de Esmoriz, junto à Barrinha de Esmoriz.
Uma das crias a bater as "asas"...
Assim como se reproduzem em Portugal, também têm de fazer a "muda." Como nidifica mais tarde do que o Pato-real, também faz a "muda" mais tarde e ainda mais necessita do adiamento da abertura da caça aos patos.
Durante a "muda" os machos estão com a plumagem de eclipse e, nesta espécie, a cor do bico também muda, passando também a mostrar as 2 faixas laterais laranjas/amareladas. Neste período as fêmeas adultas têm o bico com mais pontos pretos. O espelho da asa também permite separar os sexos, sendo que os machos têm mais preto e castanho/cor de tijolo, como mostra a grande imagem seguinte que pedi ao JHeitor.
Em cima, para além do castanho do espelho, vê-se melhor a parte inferior da asa.
A população que nidifica entre nós deverá ser residente, mas como as capturas desta espécie têm sido reduzidas, ainda não temos dados fiáveis. Esta fêmea voltou 2 Invernos consecutivos a S. Jacinto mas nunca foi observada no estrangeiro. Outros apenas estão em S. Jacinto durante a época reprodutora e depois desaparecem... A população invernante é muito superior à nidificante, mas mesmo assim é das espécies menos abundantes durante o Inverno.
Pato-de-bico-vermelho Netta rufina
Olhando para o bico percebe-se o porquê do nome comum da espécie. É a única espécie de pato, que regularmente existe em Portugal, que eu ainda não marquei. A razão é a de que esta espécie ocorre geralmente do Tejo para Sul e eu capturo e marco patos mais para Norte... Como se pode ver na imagem é uma espécie que se alimenta muito de vegetação submersa.
O aspeto da parte inferior das asas.
Um macho em plumagem de eclipse...
A imagem acima mostra a razão porque incluí esta espécie a seguir à Frisada: - é uma espécie que também nidifica em Portugal, desde a bacia do Tejo para Sul. Nidifica entre nós ainda em pequeno número, assim como é reduzida a população invernante e toda a população Europeia. São estas razões que levam a que esta espécie não seja cinegética em Portugal i.e. não se pode caçar. A progenitora é a que está alerta e as outras são 6 crias da sua ninhada de 7.
Para compensar a falta de qualidade da fotografia anterior (tirada a grande distância), esta mostra melhor a plumagem dum juvenil já voador. As fêmeas adultas têm a ponta do bico rosada/avermelhada, contrariamente a este jovem.
Pedi ao Cláudio esta bela imagem para mostrar crias com cerca de uma semana de idade, tirada no EVOA.
Se a espécie nidifica em Portugal também tem de fazer a "muda" entre nós. Pedi esta fotografia ao Faísca para mostrar esse facto: - é notória a falta das penas primárias (não se veem as pontas das asas...), logo este macho está em "muda" e não consegue voar. Também esta espécie está condicionada por falta de locais apropriados para a realização da "muda".
É a espécie de pato mergulhador mais abundante na Europa e, durante o Inverno, em Portugal. Contudo a sua população tem vindo a decrescer, quer por alteração e destruição de habitat, quer devido ao Saturnismo no Sul da Europa.
Esta imagem mostra a silhueta típica da espécie quando está a descansar.
No entanto podem dormir na posição normal.
Quando nos estão a "olhar nos olhos"...
Juntamente com o Zarro-negrinha são designados patos mergulhadores i.e. geralmente mergulham para se alimentarem, contrariamente aos patos de superfície. O Pato-de-bico-vermelho também é considerado pato mergulhador mas pertence a um género diferente.
Depois dum banho não há como um bater de asas para sacudir as gotas de água e secar as penas...
Nidifica em Portugal, desde a bacia do Tejo para Sul e especialmente no Algarve, mas em número mais reduzido do que o Pato-de-bico-vermelho. O vídeo anterior mostra alguns comportamentos durante a formação dos casais.
Esta imagem ilustra a plumagem estival dos machos, sendo que este está a mudar as penas primárias.
Um macho com plumagem estival mostrando as asas...
Uma fêmea adulta com uma cria de 3-4 semanas, no fim de Julho - esta espécie nidifica tardiamente. Assim também beneficiaria se a caça aos patos só começasse no principio de Outubro.
Uma fêmea jovem com 5-6 semanas, estando as penas primárias a crescer. Dentro de 1-2 semanas já conseguirá voar!
Pato-branco Tadorna tadorna (atualizado 11-11-2024)
É uma espécie que em Portugal aparece associada a zonas estuarinas e salinas. É pouco maior do que o Pato-real mas a abundância de branco na plumagem faz com que pareça muito maior. A cabeça é preta mas podem-se ver reflexos esverdeados. Os machos adultos, especialmente durante a época de reprodução, têm uma protuberância no topo do bico - em primeiro plano na imagem acima. As fêmeas têm branco junto ao bico, mas em quantidades variáveis - em segundo plano na imagem acima.
Pedi esta bela fotografia de familia à Francesca pois esta espécie começou a reproduzir-se em Portugal no Algarve em 2000 e mais recentemente começou a nidificar também no Estuário do Tejo e, desde a década de 2010, na Ria de Aveiro. No entanto, segundo o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, 2/3 da população nidifica no Algarve. Têm a particularidade de nidificar em tocas e debaixo de arbustos densos. Na foto seguinte, o António Pena "apanhou bem" uma ninhada com cerca de 3 semanas no EVOA - eu ainda não consegui nenhuma foto aceitável de ninhadas desta espécie...
Aproveito uma imagem do estágio profissional do Luis Arede, também no EVOA, para mostrar o aspeto acinzentado dos juvenis já voadores, quando comparados com os adultos.
É uma espécie não cinegética logo os caçadores têm de aprender a distingui-la dos patos cinegéticos.
Na foto pode ver-se o aspeto da parte debaixo das asas duma fêmea.
Agora dum macho...
... e em voo - uma fêmea seguida por um macho adulto e por um macho jovem já com plumagem de adulto - a protuberância do bico ainda é pequena e ainda tem uma orla branca nas primárias. É uma grande foto do Thys!
Pato-trombeteiro Anas clypeata
O nome comum desta espécie deriva do seu grande e largo bico. Tal resulta da espécie ser carnívora mas alimenta-se basicamente de invertebrados aquáticos.
Como esses animais são de pequena dimensão, o bico para além de ser grande e largo tem umas "barbelas" que permite a esta espécie filtrar a água de forma mais eficiente.
Para melhor capturarem as presas, geralmente alimentam-se em grupo, formando círculos que vão reduzindo de diâmetro e assim encurralam os invertebrados. O vídeo seguinte não ilustra este comportamento da melhor forma mas é o melhor que tenho por agora...
Existem alguns casais desta espécie que se reproduzem em Portugal, em especial no Sul. Desde 2007 que em S. Jacinto são detetados estes patos a realizarem muda das penas primárias. A fotografia de cima foi tirada no Verão de 2009 e mostra também um macho marcado no Inverno anterior que ficou no local acasalado com uma fêmea também marcada - suspeitamos que se terão reproduzido algures na Ria de Aveiro pois a fêmea foi observada com juvenis voadores, depois de um período em que não foi observada. A confirmar no futuro... De referir que mais de 20% das aves marcadas desta espécie foram observadas no estrangeiro para além de nos "brindarem" com alguns registos interessantes - ver curiosidades. Ambos os patos da imagem são machos - nesta espécie só os machos têm os olhos amarelos. Os machos adultos têm os bicos pretos no Inverno mas na época da muda o bico fica castanho.
A fotografia de cima mostra as penas da parte inferior da asa.
Agora as penas superiores...
...e as das duas asas!
Os machos jovens desta espécie podem ficar com a plumagem nupcial completa apenas no fim do Inverno, pelo que é comum observar no Outono/Inverno machos a mudarem a plumagem de corpo, apresentando um aspeto estranho.
Marrequinha Anas crecca
Esta é a espécie mais abundante no Inverno em Portugal (por vezes mais de 25000). É a espécie de pato mais pequena da Europa mas é a mais rápida e com um voo mais ágil. A fotografia ilustra os 2 sexos, com a particularidade do macho do meio ser a forma Norte Americana desta espécie - há quem considere como espécie distinta Anas carolinensis e há também quem a considere apenas como uma subespécie. Apenas os machos com plumagem nupcial podem ser distinguidos: - a forma americana tem uma risca branca vertical no flanco (em vez da horizontal na europeia), assim como as riscas brancas na cabeça são menos marcadas. A carolinensis aparece todos os Invernos em S. Jacinto, tendo já sido observados 2 machos ao mesmo tempo por várias vezes. Também já capturámos e marcámos 2 machos desta espécie.
O macho da imagem de cima mostra a provável origem do nome comum da espécie. Também é visível o verde do espelho alar.
O espelho, para além de verde metálico, tem também branco e preto como mostra a foto acima que ilustra a reação ao ataque dum Açor Accipiter gentilis na "pateira" da R.N. das Dunas de S. Jacinto.
A imagem de cima, salienta novamente a "marreca" dos machos e mostra a coloração das penas da parte inferior das asas. A imagem seguinte evidência a parte superior das asas.
De referir que esta espécie é migradora invernante, existindo apenas um registo de nidificação confirmada em Portugal. O vídeo seguinte mostra um macho a alimentar-se - esta espécie pertence aos patos de superfície e é omnívora, como o Pato-real e o Arrabio.
Espécie migradora invernante que, embora seja das mais abundantes no Inverno, tem uma distribuição concentrada em poucos locais: - Ria Formosa, Estuário do Sado, Estuário do Tejo e S. Jacinto. A imagem anterior mostra também como se pode distinguir a idade nos machos: - o mais a baixo tem um espelho cinzento, logo é jovem. O do meio tem o espelho branco puro, o que indica que é um adulto. A ave mais acima é uma fêmea. Para compensar a qualidade da fotografia anterior, junto de seguida uma dum macho adulto com melhor qualidade...
É uma espécie herbívora como a Frisada, mas contrariamente a esta, "pasta" muitas vezes em terra - ver vídeo seguinte.
As plumagens nupciais e os "assobios" característicos desta espécie, podem ser observados no vídeo duma fêmea de Aythya affinis.
Como a Marrequinha, têm uma espécie Americana parecida - Anas americana, sendo que o macho distingue-se facilmente pelas cores e padrão da cabeça. A fêmea é mais difícil, mas também consegue-se distinguir da espécie Europeia (a penelope tem penas axilares cinzentas, que na americana são branco puro).
Aqui mostra-se um casal de Anas americana. Esta fotografia foi tirada ainda na época do filme e papel, a uma distância razoável, logo a qualidade reflecte-se. Abaixo junto uma imagem dum macho jovem.
De referir que, à semelhança do que se verifica com a Anas carolinensis, S. Jacinto é o local em Portugal onde é mais provável observar esta espécie. Esta imagem foi obtida em 20-12-08 e a do casal foi obtida num inverno em que estiveram presentes 4 machos e uma fêmea.
Das espécies menos abundantes no Inverno em Portugal, no entanto por vezes encontram-se em grandes concentrações, a caminho ou vindos de África - parte significativa da população Europeia inverna na África tropical. O seu nome comum deriva da sua longa cauda que, juntamente com a restante silhueta, o torna num dos patos mais elegantes.
Um casal em alerta!
Esta imagem ilustra a elegância da espécie, o padrão do espelho alar mas também uma situação que observo frequentemente - o segundo macho a contar da direita tem marca nasal que também se observa quando as aves estão em voo.
Acima vê-se a coloração das penas inferiores da asa assim como o comprimento das penas caudais.
Nesta observa-se uma fêmea com muitos pretendentes atrás, estando a exibir-se o mais à direita! A seguir um pequeno vídeo...
É a espécie menos comum em Portugal. Uma das razões deriva de ser um migrador de passagem pois passa o Inverno na África tropical. Em média, em Janeiro apenas é contado um indivíduo em todo o país, quase sempre macho... Na imagem de cima percebe-se porquê - as fêmeas são muito parecidas com as fêmeas de Marrequinha, existindo poucas pessoas em Portugal que as conseguem distinguir. As "marrecas" têm uma forma de cabeça um pouco diferente, bicos geralmente maiores e mais cinzentos, as riscas laterais na cabeça são mais marcadas, têm uma mancha clara junto à base do bico e não têm uma mancha clara por debaixo das penas caudais, embora nesta imagem seja evidente uma risca clara atípica.
Esta é uma das razões pela qual defendo que esta espécie cinegética deva poder ser caçada pois a proibição da sua caça coloca em risco de transgressão (e prisão!), todos os caçadores que vão caçar marrequinhas. A outra razão é que a população Europeia está estimada em 1000000 de aves e não é por não se caçar em Portugal que se vai alterar a tendência populacional desta espécie, que é caçada em toda a Europa e África. Na imagem de cima, a fêmea jovem de Marreco é a de cima. A confusão com os machos de Marrequinha é mais difícil. Na imagem seguinte as penas inferiores das asas.
Agora as penas superiores...
Para terminar esta espécie um pequeno vídeo - atenção que os sons que se ouvem são de marrequinhas. Apenas quando o Marreco estica o pescoço se ouve o "Gruiikh" característico dos machos desta espécie...
Zarro-negrinha Aythya fuligula
Pedi esta excelente fotografia ao Romão Machado para ilustrar o macho em plumagem nupcial - é a única espécie de pato com um "penacho" na nuca. Por vezes as fêmeas também o têm mas é mais reduzido.
Nesta imagem, na parte superior está um macho jovem, ainda sem a plumagem nupcial, e na parte de baixo está uma fêmea - nesta espécie as fêmeas podem ter uma mancha branca na base do bico, por vezes bastante superior à fêmea da foto.
Esta fotografia, embora não muito nítida, ilustra o espelho desta espécie.
Nesta vemos as penas inferiores das asas. Apesar de ser a última espécie desta lista, é uma das mais interessantes - é pouco abundante em Portugal, logo também na Ria de Aveiro, no entanto, neste local, no fim do Inverno quase todos os indivíduos estão marcados... Embora não sejam muitos, mais de 50% são depois observados no estrangeiro. É uma espécie em forte regressão na Península Ibérica mas a principal razão deverá ser o aquecimento global - nos anos posteriores a serem marcados, muitos são observados no Inverno em países mais a Norte chegando ao extremo de num Inverno anterior ter sido observada uma fêmea na Islândia, em Janeiro!!! O vídeo seguinte mostra um macho que tem voltou a S. Jacinto vários Invernos e foi observado em Espanha, França e em Londres!
Há aves aquáticas cinegéticas que muitas vezes são confundidas com patos mas na realidade não são e até pertencem a uma Ordem diferente: - em vez de pertencerem aos Anseriformes (como os patos), pertencem aos Gruiformes e à Família Rallidae. Distinguem-se dos patos por terem bicos de formato diferente, por não terem membranas interdigitais nas patas e não haver dimorfismo sexual evidente. Das espécies desta família existentes em Portugal, as mais comuns são cinegéticas: Galeirão Fulica atra e Galinha-d'água Gallinula chloropus. Para além destas há o Camão ou Caimão Porphyrio porphyrio, o Frango-d'água Rallus aquaticus e, nos últimos anos, por vezes também é observado o Galeirão-de-crista Fulica cristata, para além doutras espécies mais raras, que também não são cinegéticas.
Galeirão Fulica atra
É uma espécie basicamente herbívora e tem a particularidade de, frequentemente, mergulhar para se alimentar.
Contrariamente aos patos, ambos os sexos incubam os ovos. Os juvenis, nos primeiros dias de idade, são no mínimo estranhos.
A partir das 2 semanas ficam com um aspeto mais "normal" e ganham tons acinzentados. O da foto seguinte terá já 4 a 5 semanas e já estão a crescer as penas primárias.
Também, contrariamente aos patos, nesta espécie os progenitores alimentam os seus filhotes.
As crias da foto e filme anteriores tinham cerca de uma semana de idade. A foto seguinte mostra uma das crias passadas mais 2 semanas - com cerca de 3 semanas de idade os juvenis já mergulham para comer - infelizmente não os consegui filmar em condições...
A foto anterior também mostra a parte inferior das asas desta espécie. A seguinte mostra a parte superior das asas.
Esta espécie tem a particularidade de ter uns lóbulos nas patas, que ajudam a nadar - contrariamente aos patos não têm membrana interdigital.
Existe uma espécie semelhante mas que não é cinegética - Galeirão-de-crista Fulica cristata. Apenas nidifica no Sul de Espanha e Norte de África mas quase todos os anos é observada em Portugal. Os locais mais a Norte onde aparece são a Barrinha e Lagoa de Mira - o João Petronilho é quem a observa mais frequentemente nestas zonas húmidas, por isso pedi-lhe a "grande" imagem que se segue. Esta ave distingue-se facilmente do Galeirão pelas "cristas" vermelhas.
Galinha-d'água Gallinula chrolopus
De dimensão inferior ao Galeirão, também utiliza meios mais fechados e com mais vegetação. A imagem mostra um adulto durante o Inverno (repare na pata amarelo-esverdeada visível debaixo de água, com uma risca vermelha acima da articulação, e bico vermelho e amarelo).
No Verão as cores são menos vivas, especialmente no bico.
Os imaturos têm plumagem de tons acinzentados, tendo o bico cinzento escuro, e as patas também são acinzentadas, sem banda vermelha.
Nos primeiros dias de idade os juvenis não são muito menos estranhos de que os de galeirão e também são alimentados pelos progenitores.
No final da Primavera de 2012, ao cortar a vegetação para reabrir um canal na R.N. das Dunas de S. Jacinto, encontrei 2 ninhos desta espécie que foram salvaguardados pois deixei a vegetação intacta à volta deles. Ambos tiveram sucesso e num fui agradavelmente surpreendido ao ver as crias recém eclodidas como mostram a fotografia e o vídeo seguinte.
Tanto os galeirões como as galinhas-d'água, que se reproduzem em Portugal, são residentes. No caso do Galeirão, no Inverno os números aumentam com indivíduos vindos do Norte da Europa mas também do Sul de Espanha. Quanto à Galinha-d'água, também recebemos migradores invernantes do Norte da Europa (há registos de aves caçadas em Portugal que foram anilhadas na Bélgica e na Dinamarca), mas deverão representar um valor relativamente reduzido.
Camão Porphyrio porphyrio
Também chamado de Caimão ou Galinha-sultana, esta espécie é maior do que o Galeirão e tem uma plumagem e cor de bico distintos, como de pode ver na imagem seguinte cedida Romão Machado.
Até há década de 90 esta espécie estava restrita apenas ao Algarve (uma das razões para não ser cinegética). Hoje em dia já há registos de reprodução até à Pateira de Fermentelos, perto de Aveiro. É herbívora como o Galeirão mas alimenta-se mais de vegetação emergente como as tabuas, bunhos e caniço. Há semelhança dos outros Ralídeos anteriores, também alimentam os juvenis como se pode ver na imagem e no vídeo seguintes.
"Pateira" da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto - a área nacional com maior densidade de patos por metro quadrado! É a principal zona de refúgio da Ria de Aveiro, tendo por vezes mais de 5000 patos em menos de 8 hectares. É a área em Portugal onde se consegue ver os patos de mais perto - a visitar de Agosto a principio de Março, em especial no Inverno - ir de manhã que é quando a luz está melhor.
O Paul do Taipal é a principal zona de refúgio dos patos do Baixo Mondego. Tem a particularidade de ser possível ter este ângulo de visão a partir da encosta a Leste. Há uma estrada alcatroada que saí da rotunda de Montemor-o-Velho, na estrada nacional (virar para norte, da direção oposta ao castelo), e que passa ao lado dum observatório de acesso fácil e livre. A vegetação das ilhas e parte do cômoro, que rodeia a área intervencionada, é cortada todos os anos para melhorar as condições para as aves mas também para melhorar as condições de observação das aves, incluindo as aves marcadas. Na fotografia apenas se notam uns pontos na área cortada - são várias centenas de patos. Este "lago" foi aberto num projeto IED (PAMAF 4031), do qual fui um dos dinamizadores - o objetivo aqui foi melhorar as condições de acolhimento para os patos. Como esta ação de gestão/melhoria de habitat estava a precisar de continuação, no âmbito do projeto FFP/IFADAP.2006.09.001199.7, foi possível melhorar e aumentar a área intervencionada, sendo o aspeto resultante o que se encontra a seguir.
A visitar de manhã (melhor luz) ou ao escurecer (quando chegam as garças para o dormitório). Mais informações em http://www.avesdeportugal.info/sittaipal.html
O Estuário do Tejo é a zona húmida nacional mais importante para os patos e as outras aves aquáticas. A fotografia anterior ilustra alguns dos grupos mais importantes: - patos, gansos e limícolas. É a única área nacional que tem Ganso-bravo Anser anser com regularidade no Inverno, sendo que por vezes tem mais de 3000. Para a observação de aves tem algumas limitações: - é muito grande e as aves andam geralmente muito longe; é preciso conhecer bem os locais mais interessantes e saber "jogar" com o efeito das marés.
No entanto, foi inaugurado em Abril de 2013 o espaço EVOA que veio resolver grande parte das limitações da observação de aves aquáticas neste local - as fotos acima e o vídeo seguinte ilustram finais de Dezembro de 2012.
Mais informações sobre o Estuário do Tejo em (o EVOA fica na Ponta da Erva) http://www.avesdeportugal.info/sitestutejo.html
|
A captura e marcação de patos faz parte do meu trabalho de investigação. Em 22 de Julho de 1993 capturámos e marcámos o primeiro pato. Desde então já anilhámos mais de 25 mil aves e marcámos no bico mais de 22 mil patos. Dentre as curiosidades podemos destacar: - o pato que marcámos e viveu mais tempo, foi um macho de Pato-real, marcado na Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto em 29-09-1998, era um jovem desse ano, e foi observado até 19-07-2012. Encontrámos a marca e ossos da cabeça em Maio de 2013, pelo que viveu mais de 14 anos, o que na Ria de Aveiro é obra!; - o pato migrador marcado por nós que viveu mais tempo foi caçado em Inglaterra em janeiro de 2018. Foi marcado em S. Jacinto em 20-11-2005 e ficou na "pateria" até ao final de fevereiro de 2006. Nunca voltou mas foi observado em Inglaterra em junho de 2007, em fevereiro de 2009, em janeiro e outubro de 2010, em abril de 2011 e em fevereiro e abril de 2012. A foto seguinte foi tirada pelo Nick Stacey em Slimbridge - uma das reservas icónicas da WWT;
- o maior movimento que registámos foi o de um macho de Piadeira, marcado em S. Jacinto e caçado na Sibéria – Rússia, a 5392km de distância em linha recta; - o pato que estimamos que voou a maior distância ao longo da sua vida foi outro macho de Piadeira, que também foi marcado na Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, foi fotografado num ancoradouro duma casa de férias num lago na Finlândia, a 3162 km. Como voltou a S. Jacinto nos 8 invernos seguintes ao da marcação, voou mais de 53750 km ao longo da sua vida; - a primeira vez que vi um Zarro-americano Aythya affinis foi quando capturei o que aparece na imagem abaixo, em Dezembro de 2013 - não costumo andar atrás das raridades...;
- o Zarro-americano VHvermelho teve a particularidade de ter sido observado no País de Gales de 07-10-2014 a 25-02-2015, em Inglaterra de 4 a 17-05-2015, e na Escócia em de 30-04-2016 a 01-05-2016 e em 30 e 31-07-2016. Foi o primeiro movimento internacional que foi registado na Europa para esta espécie, é dos patos que marcámos que tem mais observações totais, é o que tem mais observações no estrangeiro e também foi fotografado muitas vezes!; - Nos invernos 2014-15 e 2015-16 esta espécie esteve presente novamente em S. Jacinto mas foi uma fêmea e infelizmente como não a conseguimos capturar, não sabemos se foi a mesma nas 2 épocas... Em compensação, consegui fazer uns vídeos...
A fotografia anterior tirada em Dezembro de 2005 na R.N. das Dunas de S. Jacinto ilustra um dos resultados mais gratificantes: - o macho de Anas clypeata U5 vermelho e a fêmea A branca foram capturados no mesmo dia, na época de 2004/05. Na mesma época foram observados acasalados, andando sempre juntos. Em Dezembro de 2005 voltaram ao local de captura, continuando acasalados...
... permaneceram todo o Inverno em S. Jacinto e voltaram em Dezembro de 2006 (foto de cima), continuando acasalados!!! No entanto, antes do fim de Janeiro de 2007, a clypeata A branca deixou de ser observada (terá sido caçada?), mas o macho continuou em S. Jacinto. Depois de umas semanas de celibato, o clypeata U5 vermelho foi de novo observado acasalado no princípio de Março, desta vez com a Pata-trombeteira G branca... Na época de 2007/8 apenas foi observada em S. Jacinto a clypeata G. Seria o fim desta história? Foi pois nunca mais foram observados... No entanto, para compensar, temos mais uma história interessante desta espécie:
A fêmea X branca foi marcada no Inverno de 2006/7. Depois foi observada no Outono de 2007 na migração para Sul, tendo sido observada na Bélgica, França, Espanha e retornou a S. Jacinto onde passou o Inverno. Em 2008 foi observada novamente na Bélgica na migração para Norte e novamente para Sul, tendo passado novamente o Inverno em S. Jacinto. Aí foi recapturada com um macho que marcámos e verificámos depois que estavam acasalados. No Outono de 2009, a fêmea foi novamente observada na Bélgica e em Espanha, mas sem sinal do macho AJA branco por perto. O mais interessante é que a fêmea voltou a S. Jacinto mas no primeiro dia que a observámos já estava com o macho novamente e ambos passaram o Inverno 2009/10 no local! O macho não voltou a ser observado, mas fêmea foi novamente observada na Bélgica e em França, no Verão e Outono, e regressou novamente a S. Jacinto onde passou o Inverno 2010/11 e o Inverno de 2011/12. Poderá ter voltado novamente no Inverno de 2012/13 e não ter sido observada pois o temporal de meados de Janeiro espantou muitos patos de S. Jacinto.
|
Surgirão mais
no futuro... Atualizado em 24-12-2016 |